O realizador espanhol Carlos Saura declarou à Agência Lusa existir «um talento musical enorme em Portugal» e anunciou estar a preparar um filme sobre música brasileira.
A sua última película, «Fados», o «musical em estado puro» como Saura a caracteriza, devido ao facto de não ter argumento, foi aplaudida de pé pelas cerca de mil pessoas que encheram o Teatro Ryerson, na sua estreia mundial, quinta-feira à noite (madrugada de hoje em Portugal) no festival de cinema de Toronto.
Numa entrevista concedida à Lusa, Carlos Saura explicou que a sua decisão de realizar o filme se deveu ao facto de sentir uma forte ligação a Portugal.
«O fado faz parte da minha vida. Relembro as canções que escutava em Madrid quando era menino, sobretudo Amália Rodrigues. Gosto muito de fado, dos fadistas, da música. Há um talento musical enorme em Portugal», disse, acrescentando que, entre os fadistas que ouve, estão Carlos do Carmo, Mariza e Camané.
Acerca de «Fados», o cineasta assinalou que todos os elementos artísticos que utilizou foram portugueses e «o resultado foi muito interessante».
«Digo, não como realizador, mas como espectador, que noto uma intenção de abrir o fado a novos mundos, mostrá-lo e não apenas deixá-lo como saudade e melancolia», observou.
Questionado sobre a possibilidade de vir a dirigir mais películas sobre a temática da «canção urbana», do qual «Fados» faz parte, Saura admitiu- a e informou ter «pendente» um projecto sobre música das Caraíbas.
«Se tudo correr como previsto - indicou -, espero iniciar no próximo ano um musical no Brasil», filme que, tal como «Tango», terá argumento.
«O flamenco é o tema a que estou mais ligado e sobre o qual trabalhei mais em Espanha. Fiz o Tango, porque tenho um grande interesse por esta dança e pela Argentina. E agora surgiu o fado porque me sinto próximo a Portugal», justificou.
Na sessão da estreia em Toronto participaram os fadistas Mariza e Carlos do Carmo, que se deslocaram expressamente ao Canadá para a cerimónia.
Em declarações à Lusa, ambos consideraram o «filme dignifica o fado».
Durante os 85 minutos de duração de «Fados» desfilam cerca de 30 fadistas e outros intérpretes, como Caetano Veloso, com «Estranha forma de vida», Lila Downs, Chico Buarque e a luso-caboverdiana Lura, que canta uma morna.
Três fadistas são evocados em homenagens: Alfredo Marceneiro, Lucília do Carmo e Amália Rodrigues, fazendo-se ainda uma referência ao século XIX e à lendária Severa.
Diário Digital / Lusa
07-09-2007