Artigo de
Sérgio Soares
A
língua portuguesa está a “baicar” (morrer) em Angola? Para uns a resposta é
sim. Para outros está a ser enriquecida com novos termos provenientes da gíria
e dos dialectos locais.
Seja
como for, já se fala em Angola de forma incompreensível para quem não domine a
gíria empregue principalmente pelos jovens.
Apesar
de ter muitos “kambas” (amigos) em Angola, o jornalista viu-se a “palar” (a
lutar) para perceber o que muitos “avilos” (amigos) lhe diziam, por isso
“chichiou boé” (demorou muito) a entendê-los.
Como
estava “boereré” de sol (imenso), o “cota” (mais velho em sentido carinhoso e
não cronológico) “envergou” umas “mauanas” (óculos) para não dar nenhuma
“baçula” (queda).
Assim
se fala entre a juventude em Luanda. Utilizando exaustivamente a gíria local
ainda mais impenetrável seria a linguagem, o que decerto vedaria a
possibilidade de entendimento ao português médio.
O
“mano Sérgio” viu que estava a “desconseguir” (não conseguir), apesar de todo o
seu “bongue” (charme), “bumbar” (trabalhar) já que era para isso que lá estava.
Como
não tinha “kibutos” (mantimentos) para oferecer, alguns “madiés” (tipos)
olharam-no com cara de lhe quererem “kafrikar” (tirar) o que levava e chegou a
pensar que tinha de andar ao “chuco” (porrada) para conseguir “bazar” (fugir,
ir embora) numa “diguela” (boleia).
Apesar
de ter entalado o dedo e de lhe ter doído “paka” (bastante) e pensando que o
iam “bubular” (matar), ainda teve tempo de olhar para as “duias” ou “garinas”
(raparigas) “cheio de poster” (a fazer charme) mas “desconseguiu” de “bumbular”
(fazer amor) com elas.
Os
“cotas” mais “malaikas” (saloios) disseram que ele era muito “miungueiro”
(mulherengo) e que parecia um “cuco” (cubano). Os “sóvias” (soviéticos) ou
“cubilhas” (soviéticos) são quase todos “bambis” (feios), disseram-lhe.
Durante
o tempo em que lá esteve, o “mano Sérgio” não viu nenhuma “kuarra” (prostituta)
na rua e não pôde continuar esta história porque a generalidade das palavras de
gíria que recolheu dizem respeito à “shoboita” ou “chuchuta” (sexo feminino) e
portanto decidiu que o melhor era parar por aqui.
A
língua portuguesa está a “baicar” em Angola?